Os Conservantes Mais Utilizados Na Indústria Alimentícia.
Os conservantes têm como função prevenir ou inibir o crescimento
microbiano e evitar alterações químicas indesejáveis, mantendo a qualidade dos
produtos e aumentando seu tempo de vida útil.
São usados principalmente para manter as características de sabor,
consistência e aparência, bem como o valor nutritivo dos alimentos.
Conservação de alimentos.
Centenas de gêneros e espécies de micro-organismos, provenientes do
solo, da água, do ar, de utensílios, do trato intestinal do homem e de animais,
dentre outros, podem contaminar os alimentos.
Os micro-organismos podem ser classificados em três categorias,
dependendo do tipo de interação com o alimento. Os micro-organismos
deterioradores promovem alterações químicas que comprometem a qualidade do
alimento.
Geralmente, a deterioração está associada a alterações sensoriais
(aparência, odor, sabor, textura), resultantes da atividade metabólica dos micro-organismos,
que utilizam compostos do alimento como fonte de energia.
Os micro-organismos patogênicos promovem o desenvolvimento de infecções
ou intoxicações no indivíduo que consumir o alimento contaminado.
Os micro-organismos contaminantes geralmente não estão presentes em
tecidos vivos saudáveis; no entanto, invadem os tecidos quando ocorrem injúrias
mecânicas ou desintegração de tecidos, como no processamento.
Alimentos comercialmente esterilizados e acondicionados em embalagens
metálicas ou de vidro podem sofrer deterioração microbiológica se o tratamento
térmico for insuficiente ou quando ocorrerem falhas na hermeticidade da
embalagem, de forma a permitir a entrada de micro-organismos.
Para produtos pasteurizados, as alterações microbiológicas dependem das
características do alimento, como meio de cultura, da carga microbiana
sobrevivente ao tratamento térmico, de contaminações após o processamento e da
temperatura de estocagem.
De acordo com sua estabilidade, os alimentos podem ser classificados em
perecíveis, semi-perecíveis e não perecíveis.
Os perecíveis são alimentos que se alteram rapidamente, a menos que
sejam submetidos a processos de conservação. Geralmente, requerem baixas
temperaturas de estocagem para melhor estabilidade.
Nos alimentos perecíveis, as alterações microbiológicas geralmente
antecedem às demais, sendo, muitas vezes, perceptíveis sensorialmente pelo
consumidor.
Esses alimentos apresentam vida útil de apenas alguns dias quando
refrigerados e de alguns meses quando congelados. Exemplos são o leite, as
carnes frescas, as frutas e as hortaliças in natura.
Os semi-perecíveis têm sua estabilidade aumentada em decorrência de
determinadas técnicas de processamento. A estabilidade pode ser estendida para
cerca de 30 a 90 dias quando mantidos sob refrigeração.
Exemplos são os produtos cárneos defumados e os queijos curados.
Finalmente, os não perecíveis podem ser estocados a temperatura ambiente por um
período de tempo prolongado, sem que haja crescimento microbiano suficiente
para se caracterizar a deterioração.
Reduções no valor comercial de tais produtos podem ocorrer devido a
alterações físicas e químicas após uma prolongada estocagem. Exemplos são os
cereais, os grãos, os produtos desidratados e os enlatados.
Um dos maiores problemas enfrentados pela indústria de alimentos
refere-se à preservação de seus produtos. Segundo a Organização Mundial de
Saúde (OMS), 20% dos alimentos produzidos são perdidos por deterioração. Sal e
açúcar são exemplos de substâncias que eram e ainda são utilizadas para
conservar os alimentos.
A preservação dos alimentos pode ser conseguida por aditivos químicos,
os conservantes, ou por alguns processos físicos e biológicos, como
refrigeração, secagem, congelamento, aquecimento e irradiação. Quando os
alimentos não podem ser submetidos a essas técnicas é necessário o uso de
conservantes.
Os conservantes são de especial importância em países tropicais, onde a
deterioração de alguns alimentos é acentuada pelo grau de umidade e temperaturas
próximas ao ótimo do desenvolvimento microbiano.
A importância dos conservantes aumenta também quando há falta de
instalações adequadas de armazenamento e o transporte do produto é deficiente
ou onde as distâncias entre os centros produtores e consumidores são grandes.
A escolha adequada de um conservante deve ser feita com base em alguns
fatores, tais como o tipo de micro-organismo a ser inibido, a facilidade de
manuseio, o impacto no paladar, o custo e a sua eficácia.
A eficácia de um conservante pode ser influenciada pela presença de
outros inibidores do crescimento de micro-organismos, como sal, vinagre e
açúcar, pelo pH e composição do produto, pelo teor de água do alimento e pelo
nível inicial de contaminação, seja do alimento ou ambiental (ligados às
condições de processo e às instalações).
Não existe conservante que seja eficaz para todos os tipos de alimentos.
O número de conservantes permitidos é bastante reduzido e não sofreu alterações
nos últimos anos.
A definição de conservantes alimentícios é bastante simples;
identificados pelo código P (de preservativos, como eram conhecidos
anteriormente), trata-se de substâncias que prolongam o tempo de conservação
dos gêneros alimentícios, protegendo os mesmos de alterações decorrentes de micro-organismos
ou enzimas.
A legislação europeia, a mais recente e com interessante sistema
numérico para todos os aditivos e ingredientes alimentícios (os números E),
menciona junto com os conservantes (E200-E297), os antioxidantes (E300-E399) e
a irradiação (ionização) dos alimentos.
Os antioxidantes também são substâncias que prolongam o tempo de
conservação dos gêneros alimentícios, porém, protegendo os mesmos das
alterações provocadas pela oxidação, tais como a rancidez das matérias graxas e
as modificações de cor.
Os conservantes constituem, recorrentemente, um tópico em discussão
pública e, cada vez que se fala sobre eles, muitos consumidores associam-nos à
presença de produtos químicos nocivos nos alimentos.
No entanto, fazendo uma retrospectiva, verifica-se que há séculos que se
pratica a conservação dos alimentos, desde que o homem começou a usar o sal
(salga) e o fumo (fumados) para impedir a deterioração da carne e do peixe.
Apesar de todas as desconfianças que causam, os conservantes tornaram-se
um componente indispensável dos alimentos. Isto se deve, entre outras razões,
ao aumento da procura, por parte dos consumidores, de gamas de produtos
alimentícios cada vez mais práticos e fáceis de cozinhar, assim como às
rigorosas regras de segurança alimentar estabelecidas.
A preservação é geralmente definida como o método utilizado para
preservar um estado já existente ou para evitar possíveis danos devido à ação
de agentes químicos (oxidação), físicos (temperatura, luz) ou biológicos (micro-organismos).
A preservação dos alimentos permitiu que o homem pudesse manter
alimentos de colheita inalterados até o ano seguinte. Portanto, a função
primária da conservação é atrasar a deterioração dos alimentos e evitar as
alterações no seu sabor ou, em alguns casos, na sua aparência. Isto pode ser
alcançado de diversas formas graças aos processos de tratamento, como em
conserva, através da desidratação (secagem), fumagem, congelamento, utilização
da embalagem e à utilização de aditivos alimentícios, como conservantes ou
antioxidantes.
Os conservantes são usados principalmente para produzir alimentos mais
seguros para os consumidores, impedindo a ação de agentes biológicos. Para o
consumidor, a maior ameaça vem da deterioração ou mesmo da toxicidade dos
produtos alimentícios, devido à ação de micro-organismos nocivos (bactérias,
leveduras e bolores). Alguns destes organismos podem secretar substâncias
tóxicas (toxinas), perigosas para a saúde humana e que podem ser fatais.
Para atrasar a deterioração dos alimentos por micro-organismos, são
utilizadas substâncias antimicrobianas para inibir, retardar ou prevenir o
crescimento e proliferação de bactérias, leveduras e bolores.
Compostos sulfatados, como os sulfitos, são utilizados para inibir o crescimento
de bactérias, como no caso do vinho, frutos secos, vegetais em vinagrete ou
salmoura. O ácido sórbico pode ser utilizado em várias aplicações, incluindo a
conservação de produtos à base de batata, queijo e compotas.
Os compostos, como nitratos e os nitritos, constituem outro grupo de
substâncias de grande utilidade. Estes são utilizados como aditivos em produtos
cárneos, como as salsichas e fiambres, como proteção contra bactérias
causadoras do botulismo (Clostridium botulinum), contribuindo significativamente
para a segurança alimentar.
O ácido benzóico e os seus sais de cálcio, sódio e potássio são
utilizados como antibacterianos e antifúngicos em alimentos como picles,
compotas e doces com baixo teor em açúcar, molhos e condimentos.
Para garantir que os conservantes realmente ajudam a aumentar a
segurança dos alimentos, a sua utilização está sujeita a uma avaliação de
segurança e a procedimentos de autorização, prévios à sua comercialização. As
agências responsáveis pelos procedimentos de avaliação da segurança,
autorização, controlo e rotulagem dos conservantes e outros aditivos, a nível
europeu, são a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar, a Comissão Europeia,
Parlamento Europeu e Conselho da União Europeia. A nível internacional existe o
Comitê Conjunto de Peritos em Aditivos Alimentares (Joint Expert Committee on
Food Additives, JECFA), que depende da Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e Agricultura (FAO) e Organização Mundial de Saúde (OMS).
A avaliação da segurança dos conservantes, assim como os restantes
aditivos alimentares, é baseada em considerações de todos os dados
toxicológicos disponíveis, incluindo observações em humanos e animais. Tendo em
conta os dados disponíveis, foram determinados níveis máximos de um aditivo,
até ao qual não ocorrem efeitos tóxicos.
Este é a denominada “dose sem efeitos nocivos observados” (No Observed
Adverse Effect Level - NOAEL) é utilizada para determinar dose diária
admissível (DDA) para cada aditivo alimentar.
A DDA providencia uma ampla margem de segurança e representa a
quantidade de um aditivo alimentar que pode ser consumida diariamente através
da alimentação, ao longo da vida, sem efeitos adversos para a saúde.
A aprovação e as condições de utilização de conservantes são regidas
pela Diretiva 95/2/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 20 de Fevereiro e
1995, relativa aos aditivos alimentares à exceção dos corantes e dos
edulcorantes.
Tem havido uma crescente preocupação pública relativamente a reações
adversas causadas por alguns aditivos alimentares, contudo investigações
criteriosas demonstram que estas receios são majoritariamente baseadas em
crenças errôneas, do que em verdadeiras observações de reações adversas.
Raramente se tem provado que os conservantes provocaram verdadeiras
reações alérgicas (imunológicas). De entre os aditivos alimentares que causam
reações adversas, estão alguns dos conservantes do grupo dos agentes
sulfatados, que incluem vários sulfitos inorgânicos (E 220 - 228), o ácido
benzóico e os seus derivados (E 210 - 213), que podem desencadear sintomas de
asma, caracterizada por dificuldades respiratórias, falta de ar, sibilos, tosse
em indivíduos susceptíveis (como por exemplo, um individuo asmático).
O Parlamento Europeu, conjuntamente com o Conselho Europeu, elaborou um
sistema de rotulagem detalhado para os aditivos alimentares, permitindo aos
consumidores fazer escolhas informadas, relativamente aos produtos contendo
conservantes.
A legislação prevê igualmente que os aditivos devem ser indicados na
embalagem dos alimentos e classificados por categorias (conservantes, corantes,
antioxidantes, etc.), com o seu nome ou número E.
Os principais conservantes e sua ação nos alimentos.
Alguns dos conservantes mais utilizados nos produtos alimentícios
incluem o ácido sórbico e seus derivados, o ácido benzóico e seus sais, o ácido
propiônico e seus sais, o dióxido de enxofre e seus derivados, os nitritos e
nitratos, o ácido acético e acetatos, o ácido p-hidroxibenzóico e seus ésteres
(parabenos), o ácido láctico e seus sais, e a nisina e a natamicina.
O ácido sórbico e seus derivados. Extraído pela primeira vez em 1859,
pelo professor A. W. von Hoffmann, do óleo de bagas de sorveira, esse ácido
graxo insaturado (ácido hexa-2,4-dienóico) apresenta eficiência antimicrobiana
reconhecida há mais de 70a anos.
Tecnicamente, o ácido sórbico encontra nas células dos micro-organismos
diversos pontos de ataque, como por exemplo, as enzimas do metabolismo dos
carboidratos e do ciclo dos citratos.
Ao contrário de seu sal, o sorbato de potássio, o ácido sórbico é
dificilmente solúvel em água. A eficiência desse ácido orgânico e de seus sais
depende do pH, sendo maior em meio ácido (predominância das formas não
dissociadas). Os sorbatos são potentes inibidores de bolores e leveduras,
possuindo pouca ou nenhuma efetividade na inibição de bactérias (no caso do
ácido sórbico).
Tanto o ácido quanto o sorbato de potássio utilizam-se em alimentos com
pH inferior a 6,5 e de grande valor nutricional, tais como os queijos,
laticínios, carnes, produtos à base de peixe, pão e produtos de confeitaria,
etc.
Este composto não deve ser utilizado em produtos fermentados, pois inibe
a ação da levedura.
O sorbato de potássio incorpora-se aos produtos diretamente ou através
do tratamento das superfícies, por pulverização ou submersão.
Usa-se geralmente uma grama de sorbato de potássio por quilo de produto.
A dosagem padrão é de 0,05 a 0,2%.
O organismo humano metaboliza o ácido sórbico da mesma forma que os
ácidos graxos insaturados (β-oxidação).
Esse ácido e seus sais, incluindo o sorbato de cálcio, não mostra nenhum
sinal de toxicidade aguda, subaguda e crônica. Por outro lado, o ácido sórbico
apresenta somente baixo potencial alergizante.
O ácido benzóico e seus sais. Foram os primeiros conservantes permitidos
pelo FDA. Em função de seu baixo custo, o ácido benzóico e seus sais (Na e K)
são os conservantes alimentícios mais usados.
Encontra-se no estado natural em muitos frutos comestíveis. O ácido
benzóico é produzido exclusivamente por oxidação da fase líquida do tolueno. O
benzoato de sódio é obtido a partir da neutralização do ácido benzóico por
hidróxido de sódio.
A maior parte da produção mundial de ácido benzóico destina-se à síntese
química, para produção de fenol e caprolactama. Embora o ácido benzóico não
dissociado seja o agente antimicrobiano mais efetivo, usa-se preferencialmente
o benzoato de sódio, o qual é cerca de 200 vezes mais solúvel.
Como todos os conservantes orgânicos, sua eficiência depende do pH, e
seu uso somente é recomendado para produtos com pH inferior a 4,2. Quanto mais
baixo o pH do alimento a ser conservado, menor é a concentração de ácido
benzóico necessária para a ação conservante.
Esse bactericida e fungicida, como mencionado, é efetivo somente em meio
levemente ácido, e usado em muitos casos em combinação com outros conservantes.
Ao contrário do ácido sórbico é ativo contra os lactobacilos, o que impede seu
uso em produtos fermentados, como iogurtes, por exemplo.
Por conferir um gosto forte e apimentado, o que corresponde a um impacto
sensorial negativo, seu uso é restringido a certo número de produtos; um dos
seus maiores mercados como conservante alimentício são as bebidas carbonatadas.
Também é usado em salada de frutas, geléias, doces, margarinas, balas,
tortas de fruta, molhos, etc. A dosagem habitual é de 0,05 a 0,1 %.
Embora não apresentem efeitos tóxicos agudos ou subcrônicos, o ácido
benzóico e seus sais apresentaram, em estudos de toxicidade crônica, possíveis
efeitos clastogênicos e teratogênicos. Isto levou a Comissão Científica
Alimentar da CEE a determinar uma DDA (ADI) temporário de 5mg/kg de peso
corporal. Em casos raros e isolados, foram observadas reações de intolerância,
tais como urticária e asma.
O ácido propiônico e seus sais. Ainda chamado de propanóico pela
nomenclatura IUPAC (International Union of Pure and Applied Chemistry) é um
ácido graxo que se apresenta no estado natural, como um dos produtos da
digestão da celulose pelas bactérias que residem no rúmen dos animais
herbívoros.
A fermentação do material vegetal ingerido no rúmen é um processo
anaeróbico que converte os carboidratos celulósicos em ácidos graxos de cadeia
curta (ácido acético, ácido propiônico e butírico, principalmente).
A atividade depende, novamente, do pH na substância a ser preservada,
sendo a forma não dissociada a mais ativa (11 a 45 vezes mais do que a
dissociada).
Apresentam idêntica eficácia contra os microorganismos e são bastante
eficazes contra bolores, porém possuem pouca ação contra a maioria das
bactérias e não apresentam efeito contra as leveduras, nas quantidades
recomendadas para uso em alimentos.
Os propionatos são bastante usados na indústria de panificação devido a
sua pouca atuação contra os fermentos biológicos. Normalmente, usa-se o
propionato de cálcio nos produtos salgados e o propionato de sódio nos produtos
doces.
Não mostram nenhuma toxicidade aguda nem subcrônica, porém foram temporariamente
interditados na Alemanha e na Áustria como conservantes alimentícios, antes de
serem readmitidos em função das Diretivas Europeias.
A dosagem de ácido propiônico recomendada não é fixada. Não existe
limite de concentração nesses produtos, devendo obedecer as BPF (GMP); as
concentrações são normalmente menores que 0,4%.
O dióxido de enxofre e seus derivados. O dióxido de enxofre (SO2) e seus
sais já eram utilizados pelos gregos e romanos. Os sais incluem o sulfito de
sódio, o sulfito de potássio, o bissulfito de potássio, o bissulfito de sódio e
o metabissulfito de potássio e de sódio.
São empregados como agentes inibidores de mofo, leveduras e bactérias,
além de evitarem o escurecimento enzimático e não enzimático dos alimentos.
Esse conservante é de grande valia especificamente na fabricação de
vinhos, por ter um efeito antimicrobiano seletivo sobre as bactérias acéticas.
O dióxido de enxofre inativa a vitamina B1, portanto, não pode ser usado em
alimentos considerados fontes de tiamina, como carnes, grão de cereais e
peixes; além disso, o SO2 conserva a coloração natural da carne, podendo
mascarar estágios de deterioração.
Os sulfitos são particularmente indicados para a conservação de frutas e
vegetais.
Os nitritos e nitratos. De sódio e de potássio, são especialmente usados
em sal de cura em mistura com cloreto de sódio onde são injetados na forma de
solução em pernis, palhetas e outros produtos cárneos.
A adição de nitritos e nitratos em carne e derivados está também
associada à obtenção de cor, sabor e textura, além de servir como antioxidante.
Reagem com o pigmento da carne, a mioglobina, para formar a cor característica
da carne curada (nitromioglobina).
Apesar do perigo de toxidade pela formação da metahemoglobina e das
nitrosaminas, nitratos e nitritos são muito importantes para o preparo de
produtos curados, porque ajudam a evitar o crescimento do Clostridium
botuliniun.
O nitrito não evita a germinação dos esporos (apenas concentrações muito
altas inibem a germinação dos esporos), mas evita o crescimento dos esporos
germinados, inibindo a multiplicação das células vegetativas. É mais ativo em
anaerobiose.
O ácido acético e acetatos. A ação preservativa do ácido acético na
forma de vinagre foi reconhecida desde a mais remota Antiguidade. O ácido
acético e seus compostos não têm somente ação preservativa, mas funcionam como
sequestrantes, acidulantes e agentes flavorizantes.
É um ácido natural que se forma no vinagre mediante a ação da bactéria
Acetobacter. Os sais de sódio e cálcio: diacetato de sódio e cálcio, e ácido
dihidroacético são alguns dos antimicrobianos mais antigos, utilizados em
alimentos.
Apenas a Acetobacter, as bactérias láticas e as bactérias butírico
ácidas são tolerantes ao ácido acético. Inibe bem as Bacillus, Clostridium,
Listeria, Salmonella, Staphylococcus aureus, Pseudomonas, E. coli e
Campylobacter. Os fungos são mais resistentes do que as bactérias; os fungos
sensíveis são os Aspergillus, Penicillium, Rhizopus e Sacharomyces.
O ácido acético também é usado para estabilizar a acidez dos alimentos e
como diluente para certas substâncias corantes. A dosagem recomendada é de 0,1
a 5%.
O ácido p-hidroxibenzóico e seus ésteres (parabenos). Publicações
europeias informaram sua utilização como conservante em alimentos a partir de
1932. Devido ao seu gosto desagradável esses produtos não têm mais um papel de
destaque como conservantes alimentícios, mas são usados largamente em produtos
farmacêuticos e cosméticos como conservantes.
Os parabenos foram um dos primeiros conservantes a serem aceitos pelo
FDA. Atuam em uma faixa de pH de 3 a 8, sendo mais ativos em pH baixo. Metil,
propil e heptil parabenos são colocados direto no alimento. Etil e butil são
autorizados somente em alguns países.
A ação é diretamente proporcional ao comprimento da cadeia alquila.
Geralmente são mais ativos contra fungos e leveduras do que bactérias e mais
ativos contra gram positivos do que Gram negativos.
Geralmente utiliza-se o metil e o propil parabenos devido à maior
solubilidade e grande atividade respectivamente. Pode ser usado, por exemplo,
em bebidas fermentadas e não carbonatadas além de outras aplicações.
O ácido láctico e seus sais. O ácido láctico e seus sais, os lactatos de
sódio ou de potássio, atuam como agentes bacteriostáticos que aumentam o tempo
de latência dos microorganismos e/ou diminuem sua taxa de crescimento.
Agem diretamente sobre o metabolismo bacteriano por acidificação
intracelular, interferindo na transferência transmembranária de prótons,
inibindo o mecanismo de retroação e quelando os cátions divalentes essenciais
ao crescimento de patógenos.
De outro lado, os lactatos abaixam a atividade da água, o que contribui
a bloquear o desenvolvimento bacteriano, aumentando assim o tempo de
conservação.
Numerosos estudos mostraram recentemente o efeito inibidor dos lactatos
contra certo número de microorganismos patógenos (Salmonella, Listeria,
Staphylococcus, Clostridium). Eles ainda possuem uma função de exaustor de
sabor.
Conservante de alimentos, os lactatos atuam como agente sinérgico dos
antioxidantes, acidulantes e saborizantes. A dosagem normalmente usada está na
faixa de 0,05% a 2 %.
A nisina e a natamicina. A nisina (E234) é um antibiótico obtido a
partir da cultura de cepas de Streptococcus lactis. Esse polipeptídeo é um
conservante natural, porém com aplicações alimentícias restritas (sem ação
sobre as bactérias gram negativas, perda de atividade em torno de pH 4 e abaixo
de 20° e imobilização pelas gorduras e outros compostos alimentícios).
É uma das raras bacteriocinas de uso autorizado na indústria
alimentícia. Tem atividade antimicrobiana (perfuração da membrana citoplásmica)
contra a maioria dos microorganismos gram positivas, incluindo bactérias
esporuladas anaeróbicas. O uso simultâneo da nisina e do ácido sórbico e de
seus sais permite obter um espectro de ação microbiana bem ampla, quase sem
falhas.
Essa eficácia ainda é incrementada pela adição de agentes complexantes
tais como os EDTA, os nitratos e os fosfatos. É usada na conservação de
alimentos em geral e especialmente em queijos processados.
Dependendo da legislação local, pode ser utilizado também em queijos
frescos com a finalidade de bloquear a fermentação lática. Na CEE, esse
antibiótico com efeitos conservantes é usado de forma muito prudente nos
gêneros alimentícios.
A necessidade tecnológica da nisina é somente reconhecida em três
categorias de alimentos. Nos queijos afinados e fundidos é autorizado até 12,5
mg/kg, em creme coalhada e mascarpone, 10 mg/kg, e nos pudins de semolina e
tapioca, a razão é de 3 mg/kg.
A natamicina é um polieno antifúngico, isolado pela primeira vez de um
filtrado de Streptomyces natalensis e usada unicamente nas partes não
consumidas dos queijos (casca de cera). A dosagem máxima permitida é de 5
mg/kg, não detectável a 2 mm de profundidade, ou seja, ausente na massa.
Existem, ainda, outros ácidos alimentícios tais como os ácidos cítrico,
caprílico, málico, fumárico e outros, porém apresentam baixa atividade
antimicrobiana e são mais utilizados como flavorizantes.
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